Esse amor me envenena. Posto isso, o resto você sabe. Maldito amor que não me deixa, que me angustia em doses cavalares de tormento. Amor doido, insano, desmesurado. Amor quem nem matando e nem morrendo. Amor...
Você é um fruto muito verde no pé desse amor, onde tudo à tua volta está maduro. Você não sabe lidar. Talvez seja muito pra você. O espaço que você quer, já existe. Eu não chamaria de espaço, mas de abismo. Abismo onde nos atiramos sem que nos dessemos as mãos. Um cada por si sem trégua. Ao mesmo tempo, ambos prisioneiros da doença do ciúme, da falta, do vazio e da incompletude.
Mas deixe-me dizer de um sonho que tive.
Sentados, chorávamos e ríamos como duas crianças. E dialogávamos, completando um a frase do outro. Mais ou menos assim:
- Eu não sei viver sem você.
- Eu não sei viver.
- Vamos sair daqui? Vamos dar as mãos...
- Eu te amo.
- Porque vamos ser sempre infelizes e vamos ser felizes também.
- Juntos?
- Sem você não tem graça nenhuma essa porra toda, cara...
- Porque vamos nos reinventar dentro da loucura.
- Porque vamos dar um tempo de beber.
- Porque vamos cuidar melhor dos nossos filhos
- Porque a casa precisa de cuidados.
- Porque eu preciso de cuidado.
- Porque eu também.
- Vamos dançar por aí, vamo aprender samba rock?
- Porque eu só toparia com você.
- Faz carinho nas minhas costas?
- Passa a mão na minha barba?
- Você é muito louco.
- Eu te amo.
- E se a gente saísse agora, sem hora, sem rumo, você iria?
- E se agente se enfiasse numa mesa de fundo, num motel de quinta? Saudades...
- É...
- Preciso de ar.
- Preciso de paz.
- Eu gosto do caos que você criou.
- Eu gosto do gosto que tem as brigas que você provoca.
- Odeio tua boca manchada de vinho.
- Me come, vai...
- ok.
- Você é um vício estranho.
- Uma droga pesada e gostosa.
- Posso fumar?
- Vira a noite comigo?
Despertei aos prantos, abraçando a conversa como um fato real.
Falta a franqueza. Falta a lealdade. Mas tem esse amor... esse amor maluco.
Estou decidido a não decidir mais nada, cara. Só tenho uma certeza. Não sei viver sem você. Posso aprender, mas não quero. Odeio histórias que não terminam. Me recuso, antes de ver subir os créditos, antes do the end, que pode ser também algo como "eu não te amo mais". Mas vai ter que ser muito, mas muito convincente. Do contrário, eu não desisto. Nunca desisto.
Nunca!
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