terça-feira, 17 de julho de 2018

Lacaniana

Virás com meu pranto cairás?
Virá tragar a minha solidão?
Dei-te meus olhos para não chorar
Dei-te meus lábios pra não suspirar
Dei-te meu ventre pra te conceber
Na minha poesia
Serás aquela que me seguirás?
Serás aquela que me seguirá?
Quem és que em mim chegaste
Onde eu não posso ver?

Não vês que estou queimando de paixão?
Não vês que bebo a tua solidão?
Deténs canções de que já me esqueci
Furtas meu canto pra me descobrir
Bebes meu cálice pra distrair a dor do meu silêncio
Serás aquela me esconderás?
Serás aquela que me esconderá?
Será que morrerás de amor pra me guardar?

E quando a noite me insultar
E a aurora te for se invadir
E quando procurar a lua a tua melodia
A tua alma vai voar no céu
O teu corpo vai morrer no mar
Buscar o tempo que se perdeu
Qual é teu nome, doce mãe gentil?
A tua estrela para os meus navios?
A tua alcova onde me pousarás
No fim do meu caminho?
Serás aquela que me perderás?
Aquela que se perderá,
Desvão de uma palavra que se diz em vão?



quarta-feira, 20 de junho de 2018

Bomba

E fumo desesperadamente mais um cigarro, tragando essa solidão involuntária, sorvendo as poucas horas que me restam do dia, quando me encontro comigo. Não funciona a cabeça, por onde se escoa pensamentos aleatórios, quase sem nenhum sentido. Com as mãos trêmulas, arrisco catar soluções que, como folhas ao vento, teimam em escapar sempre que eu me aproximo. E vou assim, feito um maluco na praça principal, aquele cuja aparência espanta as mães que brincam com seus filhos. Me torno o limite do espaço, como se dissessem, apenas me olhando, que meu entorno não é um lugar seguro. E talvez não seja.

Enlouqueço aos poucos, sentindo crescer a insanidade, devagar, como crescem as unhas, mas sem que eu possa interromper. Apenas observo...

Sei que a explosão é certa, e espero que, caso exploda, que seja longe, que seja numa esquina condenada atingindo quem merece ir pelos ares. Porque já ouço os estalos, os craques se anunciam. E se por acaso, porque não sonhar, seja essa explosão o start da criação de um mundo novo. Como o rompimento da bolsa, como a supernova, como um fogo de São João. Como a Big Band...

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Ásperos tempos

No entanto, ásperos tempos cercam a casa barulhenta. Tempos de solidão companheira. Mundos opostos numa convivência surreal. Tempo morno, angústia que antecipa o tremor em minhas pálpebras madrugada a fora.
Nos fechamos e entre nós a fibra ótica dita o enredo. O mundo lá fora, quase sempre parece ter uma importância significativa.  Mensagem, postagem, status. Searas que meu coração não passeia a menos  haja em mim uma força sobrehumana. Lidar. Não sei se sei.
Não sei mais ao seu lado. Dormir, acordar, um gole de café, não sei. Não sei prever o final do dia. No fundo, o desconhecido é um mergulho que já pratiquei há tempos.
Amanhã acordo com a noite ainda fixa em minha mente. Noite. Essa não existe mais.
Quem é você?  Quem sou eu? Nós... Nós também não existimos. Esse anseio pela rua, pelos risos novos, pela boca amistosa que me beija de longe.
Você não admite. Não admito também.
Ligaria o foda-se, caso o foda-se causasse o surto cujos telhados do prédio pusassem em nossas cabeças. Prédio. Telhado. Foda. Se...
Fecho os olhos, te vejo num vestido lilás e sua boca só dentes e lábios e línguas. Álcool. Que droga é a gente? Tem clínica pra isso? Quero ajuda. Socorro!

Se eu morrer amanhã, saiba, não é porque a vida se tornou algo insuportável. Não é porque eu quis me despedir. É só que eu queria terminar um copo de chope sem chorar...

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Palavras mal ditas.

E, no entanto, disse-me seca: quero fugir. Amarguei tuas palavras num gole avulso da cerveja quente postada em minha frente. Naquele instante, quem queria desaparecer por completo era eu. Fui diminuindo, me fechando como uma flor de cacto, até sumir das vistas da casa quieta.
Não quis acreditar, não quis entender tamanho ato agoista, que eu não sei mesmo entender egoísmos. Quis apenas calar e esperar que letra por letra fosse engolida por minha boca sem vida.
Desliguei o telefone. Submergi horas a fio dentro da perplexidade. Porque não entendo. Senti-me o mais feroz dos algozes, uma besta fera sem escrúpulos, que durante anos aprisionou o coração da mulher amada numa redoma guardada a sete chaves.

Não, não era eu. Não podia ser eu. Um grito de horror cobriu a noite que se armou dentro de mim.

Por mais que eu não quisesse, sempre soube que o coração, no caso o dela, é uma estrela solitária, um balão que vaga céu afora, sem qualquer rumo. Impossível que se possa prever suas rotas e seus destinos.

Aceito a derrota.
Mas não sei me conformar, desculpe.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Reminiscências...

Tenho te pensado tanto. Tenho sentido, por vezes, geralmente quando te ausentas, aquela angústia de que lhe falei outro dia. Fumo invertido, como um garoto, afoito, esperando que rompas a porta num sorriso ausente há anos. Te espero, ainda, como no primeiro chopp, como na primeira réstia de luz que cobriu teu corpo nu, lindo, deitada que estavas, submersa no cansaço do sexo ainda tímido das primeiras horas nossas. Os primeiros porres, as primeiras brigas, as primeiras cenas de ciúme. Ando preso, feito um bicho, na jaula de nosso passado.

Procuro teu cheiro pela casa, tua sombra pesa nas paredes. Paredes escuras de lembranças. Alucinado, te vejo numa calma lenta preparando teu sono e choro quieto a tua calma, enquanto meu corpo arde, queima, ansiando as tuas mãos nas mãos de uma mulher alheia, coitada, que recebe a migalha do que possuo, por agora. Não sei me dar aos pedaços. Talvez não saiba me dar.

Tenho mágoa. Ódio passageiro. Gela minha espinha na imaginação de que outro possa-te de ter como eu. Embora eu duvide, duvide tanto disso, tenho medo. Mas o medo, amor, é aquele momento que passa. E eu tenho medo mesmo é que passe.

Tenho te procurado tanto. E me apego desvairando na mulher que conheci ao cair da noite, e que me despencou de uma nuvem serena, como um raio. E que me deu tudo e me deu nada.

Um dia lhe escrevi e te gritarei frente à frente, que tenho mágoa. Muita mágoa. E que não durmo há dias seguidos, e que acordo com uma tranquilidade infantil, que te mostro a mentira da força e da segurança que nunca tive, uma madureza muito falsa. para que não tenhas, nem por um único momento, algo fora daquilo que sempre lhe mostrei: coragem.

Tenho mágoa, que só as mágoas de amor têm estrelas por detrás.


terça-feira, 10 de outubro de 2017

Desistir... Nunca!






Esse amor me envenena. Posto isso, o resto você sabe. Maldito amor que não me deixa, que me angustia em doses cavalares de tormento. Amor doido, insano, desmesurado. Amor quem nem matando e nem morrendo. Amor...

Você é um fruto muito verde no pé desse amor, onde tudo à tua volta está maduro. Você não sabe lidar. Talvez seja muito pra você. O espaço que você quer, já existe. Eu não chamaria de espaço, mas de abismo. Abismo onde nos atiramos sem que nos dessemos as mãos. Um cada por si sem trégua. Ao mesmo tempo, ambos prisioneiros da doença do ciúme, da falta, do vazio e da incompletude.

Mas deixe-me dizer de um sonho que tive.

Sentados, chorávamos e ríamos como duas crianças. E dialogávamos, completando um a frase do outro. Mais ou menos assim:

- Eu não sei viver sem você.
- Eu não sei viver.
- Vamos sair daqui? Vamos dar as mãos...
- Eu te amo.
- Porque vamos ser sempre infelizes e vamos ser felizes também.
- Juntos?
- Sem você não tem graça nenhuma essa porra toda, cara...
- Porque vamos nos reinventar dentro da loucura.
- Porque vamos dar um tempo de beber.
- Porque vamos cuidar melhor dos nossos filhos
- Porque a casa precisa de cuidados.
- Porque eu preciso de cuidado.
- Porque eu também.
- Vamos dançar por aí, vamo aprender samba rock?
- Porque eu só toparia com você.
- Faz carinho nas minhas costas?
- Passa a mão na minha barba?
- Você é muito louco.
- Eu te amo.
- E se a gente saísse agora, sem hora, sem rumo, você iria?
- E se agente se enfiasse numa mesa de fundo, num motel de quinta? Saudades...
- É...
- Preciso de ar.
- Preciso de paz.
- Eu gosto do caos que você criou.
- Eu gosto do gosto que tem as brigas que você provoca.
- Odeio tua boca manchada de vinho.
- Me come, vai...
- ok.
- Você é um vício estranho.
- Uma droga pesada e gostosa.
- Posso fumar?
- Vira a noite comigo?

Despertei aos prantos, abraçando a conversa como um fato real.
Falta a franqueza. Falta a lealdade. Mas tem esse amor... esse amor maluco.

Estou decidido a não decidir mais nada, cara. Só tenho uma certeza. Não sei viver sem você. Posso aprender, mas não quero. Odeio histórias que não terminam. Me recuso, antes de ver subir os créditos, antes do the end, que pode ser também algo como "eu não te amo mais". Mas vai ter que ser muito, mas muito convincente. Do contrário, eu não desisto. Nunca desisto.

Nunca!


-

sábado, 29 de julho de 2017

Você não entende.

Caminho pela casa, esse deserto de nós dois, em busca do lago em que nos banhamos há tanto tempo e o que vejo são nacos de poeira que se acumulam pelos cantos, nas paredes, nos móveis, nos talheres, na gente...
Odeio cada partícula dessa areia, onde afundo os pés, mergulhado. Longe, ouço tua gargalhada, tua bailada nua, meu sorriso, meu fumo se espalhando, as garrafas acumuladas, vazias da felicidade que entornamos sem medida.

Sozinho enquanto escrevo, penso no vinho que jamais bebemos, na orla baiana em que não passeamos, no mormaço de fim de tarde que jamais sentimos. Aquele calor insuportável na esteira do poeta, cachaça de rolha, saudade do que não veio.

O que queremos não pode ser. O que queremos não existe. Tuas mágoas e as minhas, sentadas me observam. Sorriem e me exigem mais um trago de tristeza que eu não quero dar. A dor bateu na porta e eu fingi que não estava. Mas, mas ela viu a luz acesa. O perdão está cansado, o suplício está cansado, o desejo está dormindo. Mas estão aqui, numa espera que não cansa. Fico bem na tua ausência, me mato um pouco também. Não sei lidar com a dose dupla de sentimento que se mistura para que eu beba.

Não há ninguém fora de você, nem nunca haverá, muito embora, vez ou outra, ambos procurem pequenas luzes para se iluminar. Mas essa rua, tão escura, tão nossa, expulsa qualquer vulto, iluminado ou não, para que a gente permaneça.
Reviro as minhas coisas e elas cabem numa mala pequena mas que de tão pesada, custa-me ergue-la do chão sem que as minhas mãos se machuquem e até sangrem.

Sabe. você não entende nada. Não sabe o quanto meus olhos doem enquanto os teus se cerram num sono lento e profundo.

Hoje estou aqui e sinto falta de tua boca, do cheiro dela, da implicância dos teus gestos. Amanhã não sei onde estou. Estou indo para algum lugar onde não me encaixo mais, talvez nos procurando para retornar à casa onde não existe mais um deserto de nós dois, onde só existem nós dois e os nossos filhos, onde minha cabeça voa inquieta numa tranquilidade que jamais provei, onde você seja aquela, onde eu seja aquele. Onde sejamos....